Presente de Anninha

Presente de Anninha

domingo, 21 de abril de 2013

EU PRECISO ESCREVER UMA CARTA

Eu preciso escrever uma carta. Eu preciso escrever uma carta. Eu preciso escrever uma carta e isso sempre foi muito fácil para mim, mas, hoje, não. Estou desfocada da realidade ou absurdamente dentro dela, enquanto rolo as páginas do Google, vendo a vida, a morte e a loucura humana. Estou assim há tempos, de forma escondida, para não deixar transparecer o que tenho mais de real, um certo escapismo. Então, por consequência, não estou em lugar nenhum. Tenho vida ativa e ela corre, corre muito e eu me perco nas datas, e me vejo questionando meu colega ao lado, "hoje?, que dia é hoje?", e ele, com a cara pasma, responde: "hoje é segunda-feira e você não veio foi na quarta-feira passada, na sexta, você veio". Contudo, a loucura da realidade humana empurra-me para dentro, para a divagação, e eu me vejo, admirando, pelo lado de fora, as cortinas que cerram as duas enormes portas de vidro da minha casa. Do lado de fora, questiono-me o que se passa dentro, o mistério, a razão delas, as cortinas, estarem sempre em desalinho, e, às vezes, posso ver um pedaço de tapete, a luz acesa do abajur... como se tudo fosse desconhecido, mas não é, é meu. Eu preciso escrever uma carta, mas como? Eu queria estar em todos aqueles lugares, invisível presença, porque eu queria estar bem próxima de alguns e o que mais me deixa atônita é saber que não estou fazendo distinções entre o bom e o mau, nesse meu querer. Eu queria correr até lá, e gritar bastante e dizer que tudo é enorme absurdo e que somos apenas adubo e nem sempre podemos dar belas flores, eu diria, sim, para aquele belo homem, tudo aquilo que ele recusou diante do espelho. E o espelho é ele. E o espelho é o outro ao lado dele. E o espelho sou eu. Eu preciso escrever uma carta, mas eu quero mesmo é rir, desmanchar-me de rir pelas tolices dos plantonistas das verdades. Tem gente por aí só esperando o momento de lançar suas verdades, aos céus, aos léus, mesmo que não caiam em solo algum, mesmo que jamais façam brotar sequer um botão de flor. O que eu sei sobre a verdade? Nada. Tão pouco ele, tão pouco o que vive ou morre em dor dilacerante e nem o que mata. Não sabemos de nada neste solo de cultivos, somos simples sementes, pó, pólen, metragem de pele a secar, ossada quase eterna, almas embaralhadas em cartas dispersas sobre a mesa do enigma. Eu preciso escrever uma carta, mas meu destinatário se foi na madrugada passada, entre duas esquinas, no barulho eterno das guerras humanas. Por Suzana Guimarães.

Nenhum comentário:

Palavras jogadas ao vento ...

Palavras jogadas ao vento ...
Sopre cinzas pela janela ... Guardar sentimentos como mágoa , ressentimento , rancor e ódio , envenena o coração e atrai doenças como o câncer e outras tantas ... Então meu amigo , minha amiga , jogue todas coisas ruins ao vento e pode ter certeza não irás colher tempestades , não . O vento filtra todas as coisas negativas e as transforma em poesia

Seguidores

Quem sou eu

Minha foto
SOU UM GRÃO DE MOSTARDA ...